quarta-feira, 19 de agosto de 2009

SOS Focas

Quando se deu a regularização do estágio de jornalismo em Alagoas, através da resolução Nº 21/2002 de 09 de dezembro de 2002, muitos acharam que finalmente haveria coerência e probidade com a classe universitária. Na época, a Coordenadoria dos Programas de Monitoria e Estágio (CPME/PROEST), o Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Alagoas e o Sindicato dos Jornalistas de Alagoas, trabalhariam em parceria com as empresas de comunicação para resguardar direitos ao estagiário de jornalismo, alguns deles eram: estagiar apenas a partir do terceiro ano (ou 5º período); o estágio poderia durar no máximo seis meses, podendo renovar o contrato para mais seis; a jornada de trabalho seria de 20 horas semanais, além do número de estagiários não poder passar de 20% (vinte por cento) do corpo de jornalistas contratados na empresa.
Passados seis anos desde a publicação da resolução, fica a pergunta, principalmente aos nossos aprendizes (ou “focas”, alcunha dada aos jornalistas recém-formados): qual destes requisitos é respeitado na prática?
Comecemos pelas instituições de ensino (especialmente as públicas). Pouco se vê de projetos introdutórios à prática jornalística, como jornais experimentais, bons materiais, iniciativa dos professores para tais projetos, biblioteca atualizada ou laboratórios decentes de Rádio, TV, fotografia, informática, design gráfico etc., fazendo com que nossas “focas” sintam-se ainda mais emersas do “oceano da comunicação”. Chegando ao mercado de trabalho, as redações os tratam como uma espécie de Peter Parker (verdadeira identidade do homem-aranha, o qual, ironicamente, era repórter fotográfico em um jornal). A diferença é que os estudantes não foram picados por nenhuma aranha radioativa e, ao que parece, é preciso super poderes para agüentar tal fardo: excedente na carga horária, falta de reconhecimento e sem contar a baixa remuneração.
Outra questão bastante crítica, é a participação do Sindicato na fiscalização do estágio. Ao invés de monitorarem as empresas ao menos mensalmente ou bimestralmente, muitas vezes passam-se seis meses até ir às redações e tirar os estagiários irregulares. Segundo alguns estudantes, entre uma visita e outra, é o tempo da empresa preencher a vaga irregular, cumpre-se o contrato e simplesmente o Sindicato não toma conhecimento da prática.
Ao que parece, nossos aprendizes ficaram perdidos numa espécie de “fábrica de notícias”, na qual trabalham mecanicamente e seus superiores pouco se importam a respeito da qualificação e aprendizado dos nossos pupilos. Afinal de contas, estágio, na linguagem atual das empresas, é sinônimo de baixo custo com mão-de-obra. Apenas.
É necessário, portanto, perceber que esses “bebês-foca” crescem, tornam-se carnívoros em informação, mas ainda são tidos como bobos animais que equilibram bolinhas de plástico com o nariz. E se não houver uma real parceria entre ensino e empresas, além da fiscalização maciça do Sindicato, prevalecendo à valorização do aprendizado durante a prática, a matança aos nossos bichinhos não ficará restrita ao Pólo Norte e atingirá também as muitas redações deste País Tropical, em especial no nosso Paraíso das Águas.

(Mariana Belo)

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