terça-feira, 23 de junho de 2009

Ditadura disfarçada

Por Alana Berto

Segundo os dicionários, democracia é o governo em que o povo tem soberania. Em 1985 o país deu início a um regime democrático, que permanece até os dias de hoje, onde o povo tem o “poder” de escolher presidentes, Senadores, deputados, vereadores e prefeitos, a ordem atual é a liberdade. Poder este que escorre por entre as mãos do povo e só serve diante dos poderosos.


Os artistas podem produzir o que desejarem que não serão censurados, os estudantes pode fazer seus protestos, os políticos da oposição estão livres para fazer suas campanhas, ninguém corre o risco de ser exilado.

Atualmente, não existe mais esquerda ou direita, a maioria dos jovens não se importam com isso. E que venham cada vez mais taturânicos, mensalões e outros escândalos pelo país afora. Vivemos em um país democrático em que a violência perpetua junto à fome.o dinheiro que falta para a população comer, acumula na cueca dos engravatados e aumenta a desigualdade social. As leis são infringidas a todo momento, só os menos favorecidos são presos e a superlotação nas penitenciárias é alarmante enquanto os políticos ricos e poderosos roubam e usufruem do dinheiro público, os ladrões de galinha mofam na cadeia. O poder da população só vai até o dia do voto, quando esse dia acaba o poder se torna inexistente e é a isso que chamam de governo do povo, “democracia”. A conversa é que o socialismo é utópico, pois a democracia também é uma utopia, porque desde de que o mundo existe o poder sempre esteve concentrado nas mãos de poucos e infelizmente isso nunca vai mudar.

As ditaduras e totalitarismos da vida foram só uma forma escancarada de mostrar que o que importa é a opinião de uma minoria e que o Estado serve para controlar os interesses de uma maioria mantendo a “ordem”. Enquanto algumas pessoas morrem nas garras da ditadura, outras morrem nas carícias do governo do povo.

As pessoas têm a elite junto com a mídia controlando seus pensamentos ao lado desta ditadura disfarçada que se utiliza da mídia para produzir pão e circo para a população da pós-modernidade que se acomoda diante de tantas repressões.

O que adianta ter o direito de ir e vir r não poder usá-lo? Que adianta ter educação e saúde de péssima qualidade? Que adianta ter liberdade e trocá-la por libertinagem? Que adianta perder os valores por falta de questionamentos? No fundo a democracia é só uma forma de abafar o sistema, existem governos bons, outros nem tanto, mas além de tudo o que existe é uma absorção de poderes que esmagam uma maioria e segundo consta nos dicionários isso significa ditadura, a sobre posição do poder executivo, poder de uma minoria sobre os demais.

“Eu só quero chocolate”

Por Alana Berto e Mariana Belo

Uma reeducanda do presídio feminino de Alagoas anda torcendo o nariz para o “bandejão” do recinto. É bem verdade que a mistura servida nos refeitórios do local não é lá grande coisa, mas até para aquelas com cela privilegiada, a merenda, ao que parece, está difícil de engolir. Um exemplo das insatisfeitas é a advogada Mary Any Vieira Alves, detida dia 9 de setembro de 2008 pela operação Coroa, deflagrada pela Policia Federal, sob a acusação de ligação com o tráfico de substâncias ilícitas, pagamento de propina e participação em uma organização criminosa, cujo líder, vulgo “Coroa”, foi o substantivo que batizou a operação. Logo quando foi detida a advogada foi encaminhada para o Quartel do Corpo de Bombeiros, no Trapiche da Barra, a ordem foi passada pelos juízes da 17ª vara criminal da capital. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) alegou que o presídio Santa Luzia não estava adaptado para uma cela especial, já que a acusada possui grau de instrução superior.

Regularizada a situação, ela foi transferida de volta para o presídio, onde ficou numa cela improvisada e mesmo assim a acusada impetrou Habeas-corpus por três vezes. Ao longo da sua jornada pelo presídio, a advogada reclamava da alimentação e das condições estruturais de sua cela. No dia 25 de março deste ano, Mary Any declarou que detestava a alimentação do recinto e, pobre reeducanda, só saciava a fome com chocolate. Resultado: chegou a passar mal e precisou de acompanhamento médico. Mais um ponto para o “serviço de quarto” do nosso sistema penitenciário! Diante do ocorrido, uma comissão da OAB foi designada novamente para avaliar se realmente as condições do abrigo estavam no padrão recomendado e constataram que tudo estava dentro das normas.

Mas afinal, O que há de tão ruim no feijão com arroz da Casa de detenção Santa Luzia? Uma advogada certamente acostumada com as regalias da profissão e com as facilidades que a ligação com o tráfico lhe proporcionou: carro importado, banho quente, chocolate suíço de repente se vê encarcerada, contentando-se com a comida e com o acolhimento de sua antiga aliada de profissão: a justiça, aquela que tarda mais não falha, o poder que delega, que diferencia o tratamento dos que tem posses e dos que não têm, daqueles que possui certo grau de conhecimento dos que não possuem. Certamente a nossa “Barbie do judiciário” esperava em sua cela uma TV de tela plana, ar condicionado, frigobar, chuveiro quente e café na cama, junto a uma panela de brigadeiro, claro.

Não, felizmente dessa vez a regra fugiu a exceção e esperamos que ela continue a fugir. Para tristeza da ré, segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos todos têm direitos iguais perante a lei, porém essa conversa de liberdade, igualdade e fraternidade só está no papel. Na realidade, quem vai preso é o ladrão de galinha, o pai de família que roubou para dar comida aos filhos, ou o jovem que roubou por não ter chance alguma de possuir uma formação digna e se tornou o que chamam de delinqüente, conseqüência do comportamento de certos engravatados que dão outros fins ao dinheiro destinado à educação, saúde e segurança, finanças essas que provêm dos altos impostos cobrados a população.

Porém, de uma coisa podemos ter certeza: apesar dos cabelos exageradamente tingidos de loiro e de um nome tão exótico, digno de uma loja de ponta de rua (algo do tipo “Mary Any Modas”), pelo menos nosso “Bibelô do xadrez” possui um gosto musical bastante interessante, em que a música de Tim Maia influenciou suas atitudes. Provavelmente, não será difícil vê-la cantarolando nas dependências do presídio o sucesso do Pai do Soul no Brasil, tudo em alto e bom som: “Chocolate, chocolate, eu só quero chocolate...” Algo de subliminar nisso tudo?

*Protótipo de jornalista e modelo voluntária das criações da exímia estilista arapiraquense, Dona Nenzinha (sua mãe).

**Outro projeto de jornalista, professora, organizadora de chá-de-panela para as amigas, além de construtora de barquinhos de papel nas horas vagas.