quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Refrescante

— Eu sou virgem. É sério!

— Tá bom. E eu sou de Libra.

— Deixe de ser besta — disse ela, às risadas. — Você sabe muito bem que eu tou me guardando pro homem certo.

— E quem é esse sortudo? — perguntou ele, comendo Amanda com os olhos e a boca.

— Não sei ainda. Tou procurando um que valha a pena.

— Tou me sentindo um nada aqui. O Janu aqui vale a pena, sim!

— Ué, mas... não era minha intenção. Não sinto nada por você...

— Não sente ainda! Quando eu estiver fazendo cócegas nos seus estômago e rins, você vai mudar de ideia.

— Ai, eu tenho medo!

— Que nada. Vamos lá pra casa. No caminho, eu compro camisinha de menta e uma vodca na conveniência.

— Vem cá... Por que de menta?

— Não sei. É sua primeira vez... quero que seja, literalmente, gostoso.


(Breno Airan)

domingo, 18 de outubro de 2009

Colecionadora de sonhos

Ela costumava juntar sonhos,
colocava a cabeça no travesseiro

vinha mais um para sua coleção

e mais um...

Os sonhos iam, vinham, se esvaiam
mudavam sempre

Viravam lembranças gostosas

Se dissipavam em vontades

Apenas sonhos
que evaporavam
Viravam receio, medo

Ficava na prazerosa espera de apenas sonhar
depois vinha outro e mais outro...

Os travesseiros já estavam velhos

Os sonhos não,
esses não tinham tempo

Sonhar, dormir, acordar, eis a questão

Buscar os sonhos

desilusão,
frustação
Sonhar, acordar, viver a
realidade,
apenas vida
em forma de sonhos
Sonhar viver,
viver e sonhar...
e mais uma vez
Ela colocava a cabeça no travesseiro
e sonhava profundamente...


(Alana Berto)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O desconhecido

Alana Berto

Era um homem comum, na verdade era um Zé Ninguém
. Morava em uma daquelas favelas da Capital. Naquela manhã ele se levantou colocou uma camisa cor de laranja, sua única calça jeans e suas Havaianas, tomou um copo de água da torneira e comeu um pedaço de pão dormido(diferente do Zé que estava muito bem acordado e com fome).
Bom, depois de sua refeição matinal, ele seguiu para o Centro da cidade onde, costumava passar a manhã cometendo assaltos com uma arma de brinquedo. E era essa mesma história toda manhã, Zé roubava, Zé vendia...
Não passava das 10 horas da matina, quando a multidão que passava pelo calçadão do centro ouviu alguns disparos, era o corpo do desconhecido que caia no chão.
A multidão se aglomerava ao redor do corpo que lá estava estendido, a calçada cinza ficava cada vez mais vermelha. O tiro na cabeça foi fatal.
Dona Maria, uma senhora gorda que olhava sapatos na loja ao lado assustou-se ao ou ouvir aquele barulho e correu para o fundo da loja:- Aí Jesus Cristo me protege! Gritou Dona Maria aflita. Mas, igual aos outros, ela logo se acalmou e foi olhar os miolos do desconhecido que haviam sido espalhados pelo tiro. O clima era de curiosidade.O burburinho aumentou, pessoas perguntavam o que aconteceu? Quem é este homem? Quem fez isso?
Um mês antes dois homens foram assaltados por Zé Ninguém, que como sempre usou uma arma de brinquedo,Levando suas carteiras e dinheiro. A raiva era tanta que os dois trabalhadores assaltados resolveram se vingar, compraram uma arma a um estrageiro que fora apresentado por um amigo.
No dia seguinte foram ao local que Zé Ninguém costumava assaltar, efetuaram os disparos e fugiram a pé.
Até hoje a população e a polícia desconhecem o motivo do crime e nem sequer lembram do ocorrido ou da identidade dos dois crimonosos.
Quanto a vítima, não se sabe onde morava, de onde vinha, se possuia pai, mãe, esposa, filhos. As pessoas não sabiam ao menos se ele tinha uma identidade, o chamavam de Zé Ninguém.Já nas páginas dos jornais publicadas no dia seguinte, a vítima, um brasileiro de mais ou menos 35 anos foi chamada de desconhecido.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Fim!

Enquanto ele abria a porta ela saia correndo sem olhar para trás, era uma madrugada fria e escura, na rua só se tinha o olhar da lua e só se ouvia o cantarolar dos grilos.
As lágrimas vinham junto com o sereno e com o álcool, que evaporava dos poros e que momentos antes havia feito os dois corpos ferverem em um só. O olhar dele era de raiva e mágoa enquanto no dela havia desespero e esperança.
As palavras eram fortes e inesquecíveis, haviam corações feridos em conseqüência da dureza.
Ela seguiu seu caminho e dormiu, ele ficou entre o sono e o sonho. Não mais existia amor naqueles gestos, o que ficou foram somente as lembranças, indefinidas entre o amor e o ódio; o ser e o não ser; a amizade e a saudade; a raiva e o bem querer; a razão e o coração; o sofrimento e o passado; o álcool transformou-se em ópio e em gotas d’água que caiam dos olhos.
As cartas foram embaralhadas e jogadas naquela mesma rua, naquela mesma madrugada, essas cartas nunca mais foram vistas pelas ruas. Apenas as chaves continuaram a existir. As chaves que abriram aquelas portas foram as mesmas chaves que as fecharam cada um levou sua chave para casa e esse foi o começo do fim e o meio de um nova vida, nessa hora a música parou, mas outra começou a tocar: a música do fim, a música da hora, do adeus e do começo, da lembrança e do infinito...


(Alana Berto)