sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Casal pós-moderno

É, não estava mais dando certo. As desculpas não mais serviam. As brigas tornavam-se constantes. É sabido que duas pessoas parecidas demais ou diferentes geralmente não levam um relacionamento adiante. Às vezes, o ego de algum dos dois fala mais alto, por vezes gritante.

O ego da garota era, de fato, gritante. Era do tipo mimada: queria, porque queria. E isso já era suficiente pra ela e ponto. Já ele era compassivo, paciente e fazia o que deixava os outros felizes. (Segundo ele, isso o ajudava a crescer internamente.) Vê-la feliz era a sua felicidade. Mas os tempos estavam mudados. A rotina acabou transformando enfadonha a relação do casal. Não existia mais fogo. Só o soltar de faíscas nas discussões.

— Para de fumar, Nívea, por favor.
— Não vou me viciar, amor. Não se preocupe!
— A questão não é somente essa. Eu não quero que você fume. Não me sinto à vontade com esse fato.
— Não posso fazer nada, Vitor...

E não podia mesmo. Era a vontade dela. Por mais que Vitor quisesse, nunca iria domá-la. Não “domá-la” no sentido literal; machista. Mas sim fazer valer sua opinião sobre as coisas. Em um romance, isso é fundamental. Claro que as brigas são um mal necessário. São saudáveis, na medida certa. Porém, tudo tem um limite e não há discussão de relação que tire a mácula de uma traição.

Vitor soube através de amigos que sua namorada havia ido para uma festa particular sem lhe avisar. Lá, ela bebera demasiadamente e teria supostamente participado de um beijo em um garoto mais velho e uma garota, ao mesmo tempo: um ménage a trois com gostinho de Montilla. Vitor não se abateu. Mostrava-se forte — pelo menos, por fora. No escuro, chorava escondido, ouvindo a música que embalou o romance dos dois.

Nívea , por sua vez, estava tranquila até sua amiga (a que ela beijara outrora) lhe contou que seu namorado já sabia de tudo. É, a casa caiu. Com garagem, quintal e tudo mais. Ela já desconfiava que seu namoro ruiria, por mais que Vitor fosse compreensivo. Ele simplesmente não merecia aquilo; e ela sabia disso!

Tudo se confirmou quando ela recebeu um SMS, solicitando sua presença na praça central da cidade. Dizia:

Qro falar com vc.
Preciso ti perguntar 1
coisa importante!!!!!
15hrs na praça, viu?!!!! Bjo

No caminho pra lá, ela ruborizava-se com seus devaneios. Tinha vergonha do que tinha feito. No momento, foi tudo muito bom. Imaginava as palavras que Vitor ia proferir. “Ele deve tá ‘p’ da vida!”, pensou ela. Ao chegar no destino, avistou seu futuro ex, cabisbaixo. Ele foi bem direto:

— Quem vai ficar com a senha do nosso Orkut duplo?!


(Breno Airan)

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